segunda-feira, 10 de março de 2014

Ensino de Filosofia no Ensino Médio 

 
Em 2008, sob o número 11.864 foi instituída a obrigatoriedade do ensino das disciplinas de filosofia e sociologia nos currículos escolares do ensino médio, como elementos necessários ao exercício da cidadania.Observando a realidade antes exposta, acerca das diversas teorias pedagógicas presentes em nosso sistema educacional principalmente da teoria racional-tecnológica, pode-se dizer que o ensino destas duas disciplinas se insere neste contexto de integração dos saberes e do aprendizado de vida em sociedade, o chamado aprender a conviver proposto pela UNESCO.
Porém, mesmo com estes objetivos, se o trabalho docente nestas áreas for desenvolvido de forma tradicional, com o aluno decorando conteúdo e o professor simplesmente transmitindo-o, numa educação bancária. Esses objetivos não poderão ser alcançados, visto que essas disciplinas são questionadoras por natureza, em seu próprio modus operandi, o status quo propalado pelo sistema hegemônico em que vivemos. Trata-se de formar um cidadão crítico, consciente de seus direitos e suas obrigações enquanto ser humano, mas que está vinculado a uma eticidade maior dada pelos 
compromissos que assume na sociedade/comunidade. 

A filosofia, de forma mais particular, é questionadora desde suas características principais: a radicalidade na busca da raiz das coisas, a rigorosidade na aplicação da linguagem e a visão de conjunto da realidade. Sendo seu papel pensar aquilo que é e também aquilo que deve ser. Assim, por mais que o professor seja tecnicista, não conseguirá eximir-se da responsabilidade de fazer com que os alunos pensem, pois 
somente a apreensão de conceitos prontos já faz com que os educandos passem a problematizar a realidade em que vivem, seja comparando-a com o pensamento dos grandes mestres, seja apenas entendendo o porque dessa forma de pensar. 

A filosofia, de forma mais particular, é questionadora desde suas características principais: a radicalidade na busca da raiz das coisas, a rigorosidade na aplicação da linguagem e a visão de conjunto da realidade. Sendo seu papel pensar aquilo que é e também aquilo que deve ser. Assim, por mais que o professor seja tecnicista, não conseguirá eximir-se da responsabilidade de fazer com que os alunos pensem, pois somente a apreensão de conceitos prontos já faz com que os educandos passem a problematizar a realidade em que vivem, seja comparando-a com o pensamento dos grandes mestres, seja apenas entendendo o porque dessa forma de pensar. Dessa forma, é importante discutir o método de ensino de filosofia. Dois pensadores se destacam neste sentido: Hegel e Kant. O primeiro propõe o ensino da história da filosofia; Kant, no entanto, propõe que

 [...]Não é possível aprender qualquer filosofia; pois onde esta 
se encontra, quem a possui e segundo quais caracteristicas se 
pode reconhece-la? Só é possível aprender a filosofia, ou seja, 
exercitar o talento da razao, fazendo-o seguir os seus princípios 
universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas 
sempre reservando à razão o direito de investiar aqueles 
princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou 
rejeitando-os... (KANT, 1980, p. 208-209)

Propondo assim que o homem é um ser racional em busca de perfectibilidade, que pode se auto-formar. Esse pensamento kantiano permite leques de inferência, a exemplo da improcedência de se fazer com que o aluno tenha simplesmente erudição ou que memorize conteúdos. Isto apenas tornaria o aluno dependente, pois esta não é a maneira correta de usar a razão.Quando o professor se deixa levar por este tipo de displicência, tem-se a indicação de que ele não pensa, não tem coragem de posicionar-se, permanece numa condição de absoluta menoridade; ele não pesquisa, não estuda e limita-se a passar esquemas prontos. É isto que Freire chama de educação bancária: 

“Para o ‘educador-bancário’, na sua antidialogicidade, a 
pergunta, obviamente, não é a propósito do diálogo, que para 
ele não existe, mas a respeito do programa sobre o qual 
dissertará a seus alunos. (...) Para o educador-educando, 
dialógico, problematizador, o conteúdo programático da 
educação não é uma doação ou uma imposição... (...) A 
educação autêntica, repitamos, não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de 
‘A’ sobre ‘B’, mas de ‘A’ com ‘B’, mediatizados pelo mundo. 
(FREIRE,1975:98)


Mesmo considerando tudo isto, fica ainda uma questão, mais do que isto, um paradoxo: como aprender a pensar se o aluno ainda não possui conhecimentos suficientemente sólidos? Para Kant isto não é preocupação, visto que todo ser humano educador ou educando naturalmente é pré-condicionado a aprender. Ou seja, o ser humano atinge sua maturidade ou sua maioridade se ele conseguir pensar por si, 
colocar-se no lugar do outro e pensar de forma conseqüente. 

Este pressuposto pedagógico que vincula disciplina e conteúdos como ponto de partida para romper com o estado de inércia da primeira natureza — também entendido em Hegel como alienação — toma como palco de realização e aperfeiçoamento dos seres humanos, não tanto o indivíduo, mas a História. Hegel concorda com Kant de que a constituição humana acontece a partir de sua formação que tem seu sentido na perfectibilidade do gênero humano, no entanto, isto se insere numa totalidade maior que ora é o Estado, ora a sociedade civil, ora a própria história. Portanto, a ascensão cultural do espírito é resultado de um processo de formação com certo nível de complexidade. Consiste no esforço de elevar o indivíduo do em si, da imediaticidade, para uma posição superior na qual ele possa identificar-se seu este outro que é a cultura. Transpondo esta situação para o ensino, para que isto seja possível, o educando tem de aprender os conteúdos filosóficos e não apenas a filosofar. 

A partir destas duas posições, em princípio contrárias, podemos visualizar o quão desafiador é o ensino de filosofia num país como o Brasil, dependente de políticas educacionais muitas vezes impostas por organismos internacionais como o Banco Mundial. Neste sentido, pode-se refletir acerca do objetivo da filosofia como disciplina no ensino médio e o método a ser usado que alcance este objetivo. 

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei 9394/96, é ampla ao definir o papel da filosofia no ensino médio, mas tem por dever suscitar o desejo de conhecimento capaz de integrar o homem, o mundo e a natureza num projeto de compreensão existencial e transformação consciente. Neste sentido, é necessário identificar o papel da filosofia no processo educacional o que significa não tratá-la apenas como mais uma disciplina, pura e tão somente, mas como uma prática reflexiva (práxis), que auxilie na descoberta da identidade do homem diante da natureza, na construção da liberdade e na transformação consciente da realidade. 

 É evidente que tarefas tão árduas e complexas não são privilégios da filosofia isoladamente. Tal empreitada exige uma relação minimamente interdisciplinar, cabendo à filosofia uma tarefa definida entre as demais igualmente definidas, porém unidas quanto aos objetivos centrais. Portanto, o ensino de filosofia dialoga com as outras formas de conhecimento. O que, leva a pensar o ensino de filosofia também como diálogo entre educandos e entre estes e seus educadores. Portanto, pelo diálogo imprescindível filosofa-se e se conhece a cultura humana. Em outras palavras pode-se dizer que pelo diálogo há interação entre sujeitos-sociedade-conhecimentos. 

Ou seja, interdisciplinaridade exige atitude de abertura e responsabilidade. De forma que resgata a importância do “outro”, sem o qual não pode haver a troca mútua da evolução do pensamento e da linguagem, e amplia os horizontes dentro do processo sócio-histórico educacional, resgatando a importância do conhecimento das potencialidades, dos limites, das diferenças e do processo criativo de cada ciência, respeitando-se, assim, a relatividade entre elas. Há, pois, a transformação de um pensamento lógico formal em um pensamento dialético, porque não pressupõe a unificação de diferentes saberes, mas a construção incessante de relações entre os mesmos. 

Dentro desse âmbito de observação é cabível perceber que a prática da interdisciplinaridade está inteiramente relacionada à pesquisa, conforme podemos observar na seguinte citação: 

“O professor, na perspectiva da interdisciplinaridade, não é um 
mero repassador de conhecimentos, mas é reconstrutor 
juntamente com seus alunos; o professor é, conseqüentemente, 
um pesquisador que possibilita aos alunos, também, a prática 
da pesquisa. A problematização como metodologia para a 
reconstrução de construtos dá condições ao aluno de mover-se 
no âmbito das teorias, das diferentes áreas do saber, 
construindo a teia de relações que vai torná-lo autônomo diante 
da autoridade do saber. O professor pesquisador constitui-se, 
portanto, em agente necessário de uma formação calçada na 
interdisciplinaridade .”(Tomazetti, 1998, p. 13). 
 
Problematizar a realidade para ensinar filosofia, pressupõe dialogar acerca da mesma – tanto da filosofia quanto da realidade - ou seja, no ensino de filosofia, o docente e o sistema educacional, querendo ou não, possibilitam que o educando seja também dialógico-problematizador. Entender que a filosofia é ato político visto discutir as relações humanas e sociais, leva à consciência de ação transformadora, senão da realidade como um todo, da própria vida do educando. 


CARLOS EDUARDO PINHEIRO BRITO 
UNISC

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