sexta-feira, 24 de março de 2017

QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO

A imagem pode conter: 1 pessoaA quaresma é o período que antecede a grande celebração cristã: a Páscoa, Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, após sua dolorosa e sangrenta morte. Este tempo quaresmal se inicia na Quarta-feira de Cinzas percorrendo quarenta dias de reflexões, jejuns e penitências culminando com a celebração do Domingo de Ramos, dia em que se revive a dolorosa morte de Cristo proclamada no texto sagrado.
Os cristãos católicos vivem de modo intenso os quarenta dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa da Ressurreição dedicando-se à reflexão, à conversão espiritual e se recolhendo em de modo particular em momentos de oração e penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que Ele suportou na dolorosa crucificação no Gólgota.
O período quaresmal é marcado pela cor roxa simbolizando tristeza e dor. Contudo, a quarta-feira de cinzas é um dia utilizado para lembrar o fim da própria mortalidade. E neste dia é celebrada a Santa Missa aonde os cristãos católicos recebem na testa as cinzas para reviver a sagrada tradição bíblica onde vários personagens jogavam cinzas nas suas cabeças como prova viva de arrependimento.
Quando experimentamos a quarta-feira de cinzas não estamos simplesmente recordando que o homem saiu do pó da terra e para ele deverá inevitavelmente voltar, mas desejamos muito mais imprimir em nossos corações a esperança de uma vida nova, conquistada pela morte e ressurreição de Cristo, celebrada na Páscoa que a Quaresma prepara. É necessário, abordando este aspecto reflexivo, recordar-se da fábula grega da fênix, a ave que renasce das cinzas. A mesma leva a perceber a vida como algo sublime, superior e sagrado, que tem força de eternidade. Por isso ela deve ser defendida em cada ser humano e em toda a natureza e não ser escravizada pelo materialismo.
Estamos acostumados a ouvir a admoestação, ao receber as cinzas na quarta feira: “Lembra-te, homem, que tu és pó e em pó te tornarás” (Gen. 3,19). Após o Concílio Vaticano II, adotou-se também uma fórmula alternativa que é: “Convertei-vos e crede no evangelho” (Mc. 1, 15).  Tanto a primeira quanto a segunda asseveram-nos a necessidade de reconhecer a efemeridade da vida terrena, a necessidade de defender-se contra o pecado e contra todo tipo de mal e ainda de se preparar atentamente para a vida eterna, sem se submeter ao materialismo. Contudo, a vida eterna não se dá apenas depois da morte, mas tem seu início no seio materno e prossegue no tempo até seu fim natural neste mundo.
A cerimônia das cinzas nos introduz no tempo quaresmal, no qual devemos reforçar nosso hábito diário de conversão. Durante quarenta dias, nos propomos a entrar em clima de oração intensa, a jejuar, e a praticar mais a caridade, a semear a solidariedade, afinal, a criar e recriar formas de se viver em plena fraternidade. Oração, jejum e esmola são os três destaques do tempo quaresmal desde os primórdios do cristianismo.
Todavia, muitas pessoas exercem alguma destas práticas, erroneamente, como forma de recolhimento e de preparação para celebrar a Páscoa de Ressurreição. Mas para podermos celebrá-la com todo zelo e apreço, não precisamos nos ater de alimentos, bebidas e outros mais, pois imagina quantas pessoas ainda não tem o que comer e o que beber e vivem em pleno jejum durante todo o ano. Há outras formas preponderantes e mais convenientes de se preparar para esta grande festa. Pense nisso com carinho e encontre uma que melhor se adeque.
Notamos, assim, que as cinzas que recebemos no início da quaresma nos levam a crer na vida como vitoriosa sobre a matéria, sem desprezá-la. 
A quaresma não existe para si mesma, mas em vista da Páscoa. As cinzas não têm valor em si mesmas, mas estão postas em contraste com a exuberante luz da ressurreição. Se as cinzas são o resultado de um fogo que se apagou, a luz é expressão de uma chama que ilumina e aquece com o amor, com a partilha e com a solidariedade, os caminhos da vida terrena, onde as coisas materiais têm valor relativo.

Aloísio Crepalde Lelis
Graduado em Filosofia pelo Centro Universitário do
Leste de Minas Gerais – UnilesteMG
24/03/17