QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO
A
quaresma é o período que antecede a grande celebração cristã: a Páscoa, Ressurreição
de Nosso Senhor Jesus Cristo, após sua dolorosa e sangrenta morte. Este tempo
quaresmal se inicia na Quarta-feira de Cinzas percorrendo quarenta dias de
reflexões, jejuns e penitências culminando com a celebração do Domingo de Ramos,
dia em que se revive a dolorosa morte de Cristo proclamada no texto sagrado.
Os
cristãos católicos vivem de modo intenso os quarenta dias que precedem a Semana
Santa e a Páscoa da Ressurreição dedicando-se à reflexão, à conversão
espiritual e se recolhendo em de modo particular em momentos de oração e
penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os
sofrimentos que Ele suportou na dolorosa crucificação no Gólgota.
O
período quaresmal é marcado pela cor roxa simbolizando tristeza e dor. Contudo,
a quarta-feira de cinzas é um dia utilizado para lembrar o fim da própria
mortalidade. E neste dia é celebrada a Santa Missa aonde os cristãos católicos
recebem na testa as cinzas para reviver a sagrada tradição bíblica onde vários
personagens jogavam cinzas nas suas cabeças como prova viva de arrependimento.
Quando experimentamos
a quarta-feira de cinzas não estamos simplesmente recordando que o homem saiu
do pó da terra e para ele deverá inevitavelmente voltar, mas desejamos muito
mais imprimir em nossos corações a esperança de uma vida nova, conquistada pela
morte e ressurreição de Cristo, celebrada na Páscoa que a Quaresma prepara. É necessário,
abordando este aspecto reflexivo, recordar-se da fábula grega da fênix, a ave
que renasce das cinzas. A mesma leva a perceber a vida como algo sublime,
superior e sagrado, que tem força de eternidade. Por isso ela deve ser
defendida em cada ser humano e em toda a natureza e não ser escravizada pelo
materialismo.
Estamos
acostumados a ouvir a admoestação, ao receber as cinzas na quarta feira: “Lembra-te,
homem, que tu és pó e em pó te tornarás” (Gen. 3,19). Após o
Concílio Vaticano II, adotou-se também uma fórmula alternativa que é: “Convertei-vos
e crede no evangelho” (Mc. 1, 15). Tanto a
primeira quanto a segunda asseveram-nos a necessidade de reconhecer a
efemeridade da vida terrena, a necessidade de defender-se contra o pecado e
contra todo tipo de mal e ainda de se preparar atentamente para a vida eterna,
sem se submeter ao materialismo. Contudo, a vida eterna não se dá apenas depois
da morte, mas tem seu início no seio materno e prossegue no tempo até seu fim
natural neste mundo.
A
cerimônia das cinzas nos introduz no tempo quaresmal, no qual devemos reforçar
nosso hábito diário de conversão. Durante quarenta dias, nos propomos a entrar
em clima de oração intensa, a jejuar, e a praticar mais a caridade, a semear a
solidariedade, afinal, a criar e recriar formas de se viver em plena
fraternidade. Oração, jejum e esmola são os três destaques do tempo quaresmal
desde os primórdios do cristianismo.
Todavia,
muitas pessoas exercem alguma destas práticas, erroneamente, como forma de
recolhimento e de preparação para celebrar a Páscoa de Ressurreição. Mas para
podermos celebrá-la com todo zelo e apreço, não precisamos nos ater de
alimentos, bebidas e outros mais, pois imagina quantas pessoas ainda não tem o
que comer e o que beber e vivem em pleno jejum durante todo o ano. Há outras
formas preponderantes e mais convenientes de se preparar para esta grande
festa. Pense nisso com carinho e encontre uma que melhor se adeque.
Notamos,
assim, que as cinzas que recebemos no início da quaresma nos levam a crer na
vida como vitoriosa sobre a matéria, sem desprezá-la.
A
quaresma não existe para si mesma, mas em vista da Páscoa. As cinzas não têm
valor em si mesmas, mas estão postas em contraste com a exuberante luz da
ressurreição. Se as cinzas são o resultado de um fogo que se apagou, a luz é
expressão de uma chama que ilumina e aquece com o amor, com a partilha e com a
solidariedade, os caminhos da vida terrena, onde as coisas materiais têm valor
relativo.
Aloísio Crepalde Lelis
Graduado em Filosofia pelo Centro
Universitário do
Leste de Minas Gerais – UnilesteMG
24/03/17